quinta-feira, 7 de março de 2013

Abissais Representações da Renúncia








perto do Precipício
a berma insinua-se como margem
    subtilmente tentando
                                       tentado passo

Suicidários abismos             
                de horas irrelevantes
confrontando 
                              o erro errante

Chagas casuais
Permanecendo    
Tempo

Perpetuidades corrompendo      
Infinitesimais



próximo do Abismo
o corpo vacila 
    subtilmente preparando
                                            vazo espaço

Evocando sob as orlas
imorais rezas
              impúdicas súplicas
                         circunstantes transparências


Abissais representações da renúncia

Imbuindo incêndios
em incessante deflagração

Impondo refúgios
de pronominal nomeação



face à Falésia
a queda anuncia-se
    subtilmente predizendo
                                               Fim




10 comentários:

  1. Talvez um ato iniciático, um novo começo para o menino que era homem e que agora o homem deve voltar a ser menino, a ter os sonhos de menino, a levaza do menino.Ele quer o Fim: das desilusões, das contradições, dos açoites à alma, do trago amargo no vinho... Talvez agora, só agora, Ícaro seja mais prudente: nem tão perto do sol nem tão perto da terra, nada de extremos, mas o meio, o seguro, sem ser insosso... e voe sem cair... Teu poema me trouxe algo à alma que só quem está à beira do caos, sem saída, pensa em como criar asas e voar. A personagem do teu poema tem sentimentos mais que humanos neste mundo tão desumano. É a nossa mitologia. Belíssimo amigo, profundo, fundo do mar. Parabéns e bjnhos

    ResponderEliminar
  2. A perdição esconde-se
    Em lodosas águas de florida vegetação
    Teme o passo,
    Segue o corpo
    (em confronto ao erro)

    Espinhos sem hora de ser
    Espaços Sobre espaços

    No medo da “queda”
    As palavras soltam-se na verdade
    Apagando a chama…
    que retorna
    (chamando abrigo)

    Frente á “muralha “
    Chega a hora …


    Um poema curioso …
    Que se adensa por todo o verso,
    Bela tua poesia!
    Gostei imenso, como sempre.

    Beijinho

    ResponderEliminar
  3. Perante a impossibilidade, ganha força a possibilidade do abismo...
    Sempre tão denso, Filipe!

    Abraço

    ResponderEliminar
  4. Este poema é a expressão viva da arte,a voz da arte é

    provocativa,enigmática,perturbadora e fica impregnada em

    nós,ecoando... Foi assim,com este teu poema,ficou ecoando em

    mim,a cada leitura minha,crescia o seu mistério,a sua força e

    os caminhos abissais representados no código da palavra...

    Viver é um grande risco... A cada dia escolhemos renovar,

    e nunca antes de "uma boa morte do mundo" e os abismos,os

    precipicios e as falésias,todos se apresentam no seu grau

    de diferente obstáculos,que testam a nossa pulsão de vida

    e pulsão de morte(Eros e Thanatos) e a nossa força fica frente

    a frente com o nosso medo num duelo,melhor mesmo é num bom

    tango a celebrar a vida...

    Poeta,a tua arte é maior,onde sempre estou mergulhando!!

    Bjo.

    ResponderEliminar
  5. A estética do poema, é um convite para experimentarmos os (des)caminhos traçados, idas e vindas (e findas), estradas que se quebram, se fragmentam, e se bifurcam perto do precipício: abismo ou falésia? Já não existe mais tempo, as chagas já não resitem mais, ante a deflagração do incêndio, que ocupa todo o espaço, vago, vazio (?) de uma definida presença.
    Enquanto tu focas em algo real (?), para nós o poema transcende explicações... E vou e venho na engenharia do texto, tentando me equilibrar entre as linhas, nas quais fui fazendo uma escansão e cada vez mais convicta da sua identidade literária... Ninguém sai da sua poesia do jeito que entrou, ninguém!

    (E saio murmurando: O precipício pode ser um poço profundo, cuja berma tanto liberta como aprisiona).

    Beijo, Filipe!

    ResponderEliminar
  6. abismos são sempre suicidários
    por vezes também o poema

    :)

    ResponderEliminar
  7. Alguém, ao longe, observa o fim. Depois, lentamente, o seu olhar fixa-se noutras paisagens. Os fins entrecruzam-se, permanentemente, com os começos e com os durantes. Simplesmente são fim. Tão só.

    Abraço

    ResponderEliminar
  8. Será que a mente é naturalmente suicidária?
    Será que a essência, supostamente algo imaterializado, o contraponto desta tendência?
    Será que os abismos são naturalmente mais atraentes que os terrenos planos?
    (Talvez não seja por acaso que as tragédias são mais “voyeuristas” do que as comédias, sendo que estas também podem acabar em atrativas tragédias…)

    Já te tinha lido; hoje, relendo, surgiram-me estas reflexões – sobre os aspetos formais já sabes que os analiso primeiro, assim como sigo o teu tracejado mental…

    Touché!

    Bjo, meu amigo :)

    ResponderEliminar
  9. Filipe,
    Estamos tantas vezes perto desse abismo que tão bem retratas.
    Bj
    Nanda

    ResponderEliminar