sábado, 18 de maio de 2013

CLAUSURAS








                                                                                «O verso constrói clausuras
                                                                                Espaços retidos num tempo
                                                                                Claustros de errático temor
                                                                                Alongando infundadas esperas»



O mundo colapsa sepultando os versos
Fissurando a voz em ruínas


O desespero não se diz

não se escreve

não se canta


Espreita
No vermelhar raiado que avisto neste espelho



O corpo colapsa aluindo nas veias
O sopro em ruínas


A agonia não se escuta

                não se ouve

não se entende


É voz detida no tempo
Como a quimera trespassada que distingo neste nevoeiro


Anoitecem tardes frias
Anoitecem velhos ritos
Anoitecem irrefreáveis fervores


Somos do sonho
A tentativa
A hipotética via
O desentendimento


Dissoluções esféricas na métrica de um verso
                                                                        Infâmias


Possa o tempo afastar as palavras        contaminadas
As destrua               reconstrua            e as devolva intactas
Ao poema que te precedeu




10 comentários:

  1. O mesmo verso que constrói clausuras, é o que constrói amplidões e liberdades, o verso e o infinito!
    Esses versos espelhados, que reverberam os sentimentos, que alheios ao sofrimento, não sabem de quantos sonhos foram desfeitos, refeitos, nas letras, nas silabações, nas frases, nos versos, na vida que faz re-surgir no poema... Sua poesia detém o tempo, e me detém (indefesa, refém), diante de tanta beleza, aqui no seu claustro poético..

    Bravo, Filipe, um beijo!

    ;))

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  2. Olá, Filipe :)

    Obrigada por este grande poema, um poema-sopro da alma, sentido em cada palavra, na agonia de um espelho em ruínas.
    Este é o meu poema, a voz de um tempo detido no tempo.

    Muitos, muitos parabéns por esta obra magnífica e também pelo enorme prazer que certamente tiveste ao escrevê-lo.

    Obrigada, obrigada :)

    Beijo

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  3. Um poema avassalador, que imprime uma sombra que ecoa ondas de gritos

    refeitos de memória e dor...

    O mundo diluído em tempos de esperas,que se fazem noites clausuradas...

    O verso reconstrói em um único tempo-vida, a beleza e o lugar essencial das

    palavras que caminham ao rio fértil: Poesia!

    Estava tão saudosa de ler-te,a tua poesia ocupa um lugar único na arte maior. É

    muito especial para mim,contactar com esta grande arte.

    Belíssimo e tocante!!

    Bjo.

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  4. Como retido num espaço passado
    Como verso já escrito, e relido
    Assim é a memória
    Que relembra, os dias
    Agora sonhos afundados
    Entardecem as primaveras
    Ilógicas histórias no tempo do sonho
    Que o verso volte a ser, como era.

    Um poema, de dor de lamento.
    Tormento que amarra.
    Um tempo passado, que não passou
    As memórias
    Desconfianças
    Que ferem como corrosivas palavras.

    Mas também como prece.
    (que pede que volte ao tempo antes…)

    Como sempre, ler-te é um prazer.
    Tua poesia, têm algo que prende o leitor.
    Que nunca se cansa de reler.

    Mais do que belo! Teu poema!

    Beijo :)

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  5. Um poema emocionalmente desconcertante... intenso!

    Uma boa noite e congratulo-o pelo seu espaço!


    Alexandra

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  6. Como se ao espelho se desmoronasse a ilusão... Numa dor sem tempo. Sempre o tempo... Enormíssimo, meu caro amigo!

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  7. Sem querer te enclausurar, Filipe, você é poeta. O poeta.

    Beijo.

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  8. Filipe,
    Apesar de tudo, por mais que o edifício rua, haverá sempre uma flor a irromper por entre as pedras...

    Abraço

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  9. Mas que se continue a sonhar, apesar das ruínas e se reencontre a palavra...
    Obrigada pela visita...
    Beijos e abraços
    Marta

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  10. Apesar de ler e reler, não sei bem o que considerar...Esmaga-me a poderosa semântica logo na 1.ª estrofe. Sinto uma espécie de "esmagamento" do ser, um aniquilamento. Contudo, também vislumbro uma espécie de tábua de salvação na reversão que palavras poderão ter como salvíticas mum poema a acontecer...Nem tudo está perdido. Perdoa se não consigo ser original; esse atributo pertence-te...

    Bjo, Filipe :)

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