quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A Insondável Distância de Um Abismo






Da sombra sou a profundidade
A raiz negra da escuridão alastrando invisibilidade

Do tempo sou o arco que se dobra
O difuso contorno de um vestígio longínquo



É insondável a distância de um abismo
O alongamento do tempo tangido num rasto invisível
                                                               progressivamente distante



Não são os séculos que nos formam
               numa narrativa de irremediável ausência

É a divergente equação de uma incerteza
                             caminhando contra o esquecimento

«Não olhes para trás   
Nunca olhes para trás
A memória é um divino inferno de horrores»



É intangível a superfície de um reflexo
             que na sombra se oculta por completo
iniciando incomum movimento
distanciando o tempo



É incalculável a extensão de um precipício
              que se mede numa escala de fissuras
na dimensão dizível de uma ruína  
                                                     brecha a brecha   
                                           na pedra rasgada



É inegável a fragmentação do solo
A segmentação irrefutável das épocas
                                  A fissura que rasga o corpo



.


16 comentários:

  1. O tempo não é uma reta, mas sim um arco que se dobra para que não se possa olhar para trás, mas trazemos as marcas dele na alma para nunca esquecer...

    Imenso.

    Beijo.

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  2. a fissura que rasga o corpo: naturalmente, apesar da lembrança. Parabéns pelo tema e seu desenvolvimento. Abraços, Pedro.

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  3. Incomensuravelmente BELO!!! Numa dimensão sem espaço nem tempo, pela relatividade de todas as coisas...
    Bom fim de semana...:)

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  4. Querido Poeta

    O tempo vai rasgando tudo o que fomos...fica apenas a memória das palavras eternizadas em cada verso que escreves. PROFUNDO.

    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

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  5. A Profundidade do escuro o caos
    A densidade que se adensa
    (sombra adentro)
    O desconhecido
    Na devassidão da memória
    O tempo das horas que se é feito
    É abismal o enigma que guarda a memória
    A incerta certeza de um verso sem letras
    De um traço sem aroma
    Vive-se para se esquecer
    Esquece-se para continuar
    A impossibilidade de agarrar a sombra
    no passo do relógio.
    É incalculável, indiscutível que o tempo submerge
    Qualquer corpo
    Qualquer memória.

    O tempo, teu traço, tua quimera
    Tua inquestionável pergunta.

    Um poema Assombroso e belo

    Beijinho


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  6. Este teu poema se apresenta como uma tela,onde o

    poeta-pintor quisesse transfigurar a invisibilidade, a sombra,

    a escuridão e o nada abismal do tempo.

    E o peso deste tempo tatuo a alma,sedimentando os

    abismos em que a memória sucumbe nesta negritude

    ausência a tornar-se esquecimento...

    Sempre a tua poesia tem uma profundidade abismal,

    uma inscrição diferenciada neste espaço maior da poesia.

    Parabéns!

    Bjo.

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  7. Filipe,
    Vim saciar a sede de boa poesia e matar saudade de ti, meu amigo.
    Beijo
    Nanda

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  8. Por qualquer razão o poema transportou-me para o eco... "Não olhes para trás"? Mesmo que não se olhe... fica tudo registado...não se apaga___" a memória pode ser um divino inferno de horrores" ___ Depende do que cada um fará com esses horrores ...aprender a saber lidar com o medonho... Boa noite ____Gostei imenso!!!:)

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  9. Lindíssimo!
    Há poesia na susbtância do sentir.

    Abraço

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  10. Filipe, decidi fazer outro caminho na sua poesia, ou melhor resolvi experimentar outras possíveis veredas que a sua narrativa me convidou a fazer.
    Ousei adentrar na fissura que rasgou o corpo, para tentar chegar na profundidade que se fez sombra e fiz o seguinte percurso:

    "A fissura que rasga o corpo
    A segmentação irrefutável das épocas
    É inegável a fragmentação do solo

    na pedra rasgada
    brecha a brecha
    na dimensão dizível de uma ruína
    que se mede numa escala de fissuras
    É incalculável a extensão de um precipício

    distanciando o tempo
    iniciando incomum movimento
    que na sombra se oculta por completo
    É intangível a superfície de um reflexo

    "A memória é um divino inferno de horrores»
    Nunca olhes para trás
    «Não olhes para trás"

    caminhando contra o esquecimento
    É a divergente equação de uma incerteza
    numa narrativa de irremediável ausência
    Não são os séculos que nos formam

    progressivamente distante
    O alongamento do tempo tangido num rasto invisível
    É insondável a distância de um abismo

    O difuso contorno de um vestígio longínquo
    Do tempo sou o arco que se dobra
    A raiz negra da escuridão alastrando invisibilidade
    Da sombra sou a profundidade"


    No caminho todo fui deixando pistas (repliquei-me Ariadne), a partir dos teus sinais, que era para eu não me perder, para não me afogar nesse labirinto secular, que só resiste por uma irremediável ausência, o labirinto que é a razão de ser da sombra e da profundidade. É o labirinto que sustém a "raiz negra da invisibilidade"; é o labirinto que lhe mantém, Teseu, pós-moderno, prisioneiro, na "intangível superfície de um reflexo", que seria o fio, que o conduziria à Ariadne, "brecha a brecha na pedra rasgada". «Não olhes para trás. Nunca olhes para trás. A memória é um divino inferno de horrores», nos dizia o Minotauro, "iniciando um incomum movimento distanciando-se do tempo".
    Confesso que fui enredada por toda a construção do poema: as figuras de linguagem,`as figuras de som (as próprias figuras de construção), figuras de pensamento, figuras de palavras, entretanto, gostaria de fazer um relevo especial, para mim o clímax do poema, quando fazes a progressão ascendente, a partir do segundo verso (numa gradação um tanto dispersa), mas que fixaram-se em meus olhos, em meu fôlego, alternando a minha respiração:
    "É insondável a distância de um abismo
    É intangível a superfície de um reflexo
    É incalculável a extensão de um precipício
    É inegável a fragmentação do solo".

    Bravo! Bravíssimo!

    P.S.

    Obrigada, sempre, sua presença no Canto é uma grande alegria!

    ;))

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  11. um poema poderoso, profundo e de inegável beleza...

    um dia ainda vou escrever aqui...e não olho para trás, nunca olharei para trás, apenas para as páginas brancas e imaculadas à espera de serem desvirginadas...


    :)

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  12. Em Tempo

    achei espectacular o "trabalho" da Canto da Boca....

    :)

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  13. Olá amigo poeta, vim agradecer e retribuir a sua amável visita lá no blog. Já me registei como seguidora (como Berço do Mundo, sem avatar). Voltarei com mais tempo para apreciar o seu trabalho
    Abraço
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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  14. E o tempo fez-se e faz-se num tempo que é o nosso tempo, o tempo de sermos gente, abismo, dor ou sorrisos. Palavras, essas devem ecoar no silencio que trazemos em nós e por vezes não sabemos. Somos o distanciar abismal de nós proprios.

    Muito bom lê-lo.
    um abraço

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  15. A invisibilidade do sujeito poético parece ser o grande mote neste poema, não porque se sinta alguém imerecedor da sua presença no mundo, mas porque, perante a imensidão do mundo que nos é dado conhecer, é apenas um mero ser errante, como a sombra que se forma ou disforma conforme os movimentos e a luminosidade que os envolve.

    Daí a advertência “Não olhes para trás”, pois esse olhar retrospectivo seria sempre uma espécie de traição à perceção do presente e, quiçá, à representação do que foi passado.

    Pensando bem, somos o resultado das fissuras temporais…
    Repito-me: profundidade, densidade num eu poético que paira para lá do tangível.

    Bjo, amigo Filipe :)

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