Da sombra sou a profundidade
A raiz negra da escuridão alastrando invisibilidade
Do tempo sou o arco que se dobra
O difuso contorno de um vestígio longínquo
É insondável a distância de um abismo
O alongamento do tempo tangido num rasto invisível
progressivamente distante
Não são os séculos que nos formam
numa narrativa de
irremediável ausência
É a divergente equação de uma incerteza
caminhando
contra o esquecimento
«Não olhes para trás
Nunca olhes para trás
A memória é um divino inferno de horrores»
É intangível a superfície de um reflexo
que na sombra se oculta por
completo
iniciando incomum
movimento
distanciando
o tempo
É incalculável a extensão de um precipício
que se mede numa escala de
fissuras
na dimensão dizível de uma ruína
brecha a brecha
na pedra rasgada
É inegável a fragmentação do solo
A segmentação irrefutável das épocas
A fissura que rasga o corpo
.
Não existem amanhãs
ResponderEliminarsem memória
O tempo não é uma reta, mas sim um arco que se dobra para que não se possa olhar para trás, mas trazemos as marcas dele na alma para nunca esquecer...
ResponderEliminarImenso.
Beijo.
a fissura que rasga o corpo: naturalmente, apesar da lembrança. Parabéns pelo tema e seu desenvolvimento. Abraços, Pedro.
ResponderEliminarIncomensuravelmente BELO!!! Numa dimensão sem espaço nem tempo, pela relatividade de todas as coisas...
ResponderEliminarBom fim de semana...:)
Querido Poeta
ResponderEliminarO tempo vai rasgando tudo o que fomos...fica apenas a memória das palavras eternizadas em cada verso que escreves. PROFUNDO.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
A Profundidade do escuro o caos
ResponderEliminarA densidade que se adensa
(sombra adentro)
O desconhecido
Na devassidão da memória
O tempo das horas que se é feito
É abismal o enigma que guarda a memória
A incerta certeza de um verso sem letras
De um traço sem aroma
Vive-se para se esquecer
Esquece-se para continuar
A impossibilidade de agarrar a sombra
no passo do relógio.
É incalculável, indiscutível que o tempo submerge
Qualquer corpo
Qualquer memória.
O tempo, teu traço, tua quimera
Tua inquestionável pergunta.
Um poema Assombroso e belo
Beijinho
Este teu poema se apresenta como uma tela,onde o
ResponderEliminarpoeta-pintor quisesse transfigurar a invisibilidade, a sombra,
a escuridão e o nada abismal do tempo.
E o peso deste tempo tatuo a alma,sedimentando os
abismos em que a memória sucumbe nesta negritude
ausência a tornar-se esquecimento...
Sempre a tua poesia tem uma profundidade abismal,
uma inscrição diferenciada neste espaço maior da poesia.
Parabéns!
Bjo.
Filipe,
ResponderEliminarVim saciar a sede de boa poesia e matar saudade de ti, meu amigo.
Beijo
Nanda
Por qualquer razão o poema transportou-me para o eco... "Não olhes para trás"? Mesmo que não se olhe... fica tudo registado...não se apaga___" a memória pode ser um divino inferno de horrores" ___ Depende do que cada um fará com esses horrores ...aprender a saber lidar com o medonho... Boa noite ____Gostei imenso!!!:)
ResponderEliminarLindíssimo!
ResponderEliminarHá poesia na susbtância do sentir.
Abraço
Filipe, decidi fazer outro caminho na sua poesia, ou melhor resolvi experimentar outras possíveis veredas que a sua narrativa me convidou a fazer.
ResponderEliminarOusei adentrar na fissura que rasgou o corpo, para tentar chegar na profundidade que se fez sombra e fiz o seguinte percurso:
"A fissura que rasga o corpo
A segmentação irrefutável das épocas
É inegável a fragmentação do solo
na pedra rasgada
brecha a brecha
na dimensão dizível de uma ruína
que se mede numa escala de fissuras
É incalculável a extensão de um precipício
distanciando o tempo
iniciando incomum movimento
que na sombra se oculta por completo
É intangível a superfície de um reflexo
"A memória é um divino inferno de horrores»
Nunca olhes para trás
«Não olhes para trás"
caminhando contra o esquecimento
É a divergente equação de uma incerteza
numa narrativa de irremediável ausência
Não são os séculos que nos formam
progressivamente distante
O alongamento do tempo tangido num rasto invisível
É insondável a distância de um abismo
O difuso contorno de um vestígio longínquo
Do tempo sou o arco que se dobra
A raiz negra da escuridão alastrando invisibilidade
Da sombra sou a profundidade"
No caminho todo fui deixando pistas (repliquei-me Ariadne), a partir dos teus sinais, que era para eu não me perder, para não me afogar nesse labirinto secular, que só resiste por uma irremediável ausência, o labirinto que é a razão de ser da sombra e da profundidade. É o labirinto que sustém a "raiz negra da invisibilidade"; é o labirinto que lhe mantém, Teseu, pós-moderno, prisioneiro, na "intangível superfície de um reflexo", que seria o fio, que o conduziria à Ariadne, "brecha a brecha na pedra rasgada". «Não olhes para trás. Nunca olhes para trás. A memória é um divino inferno de horrores», nos dizia o Minotauro, "iniciando um incomum movimento distanciando-se do tempo".
Confesso que fui enredada por toda a construção do poema: as figuras de linguagem,`as figuras de som (as próprias figuras de construção), figuras de pensamento, figuras de palavras, entretanto, gostaria de fazer um relevo especial, para mim o clímax do poema, quando fazes a progressão ascendente, a partir do segundo verso (numa gradação um tanto dispersa), mas que fixaram-se em meus olhos, em meu fôlego, alternando a minha respiração:
"É insondável a distância de um abismo
É intangível a superfície de um reflexo
É incalculável a extensão de um precipício
É inegável a fragmentação do solo".
Bravo! Bravíssimo!
P.S.
Obrigada, sempre, sua presença no Canto é uma grande alegria!
;))
um poema poderoso, profundo e de inegável beleza...
ResponderEliminarum dia ainda vou escrever aqui...e não olho para trás, nunca olharei para trás, apenas para as páginas brancas e imaculadas à espera de serem desvirginadas...
:)
Em Tempo
ResponderEliminarachei espectacular o "trabalho" da Canto da Boca....
:)
Olá amigo poeta, vim agradecer e retribuir a sua amável visita lá no blog. Já me registei como seguidora (como Berço do Mundo, sem avatar). Voltarei com mais tempo para apreciar o seu trabalho
ResponderEliminarAbraço
Ruthia d'O Berço do Mundo
E o tempo fez-se e faz-se num tempo que é o nosso tempo, o tempo de sermos gente, abismo, dor ou sorrisos. Palavras, essas devem ecoar no silencio que trazemos em nós e por vezes não sabemos. Somos o distanciar abismal de nós proprios.
ResponderEliminarMuito bom lê-lo.
um abraço
A invisibilidade do sujeito poético parece ser o grande mote neste poema, não porque se sinta alguém imerecedor da sua presença no mundo, mas porque, perante a imensidão do mundo que nos é dado conhecer, é apenas um mero ser errante, como a sombra que se forma ou disforma conforme os movimentos e a luminosidade que os envolve.
ResponderEliminarDaí a advertência “Não olhes para trás”, pois esse olhar retrospectivo seria sempre uma espécie de traição à perceção do presente e, quiçá, à representação do que foi passado.
Pensando bem, somos o resultado das fissuras temporais…
Repito-me: profundidade, densidade num eu poético que paira para lá do tangível.
Bjo, amigo Filipe :)