(Leitura de Ana Celeste Ferreira
a quem muito agradeço a honra e o privilégio)
Poderia retomar do verso singular a sua singular simplicidade
Abdicar da intangível abstracção que não se alcança
Renunciar à morfológica anatomia de uma linguagem
Cessar este recurvado curso contra a corrente
Poderia desconstruir-me numa estrófica desconstrução
Sucumbir à singularidade linguística de um neo-poema
Fraccionar o verso-
- uno numa dualidade de linhas fragmentadas
Render-me ao objecto concrecto da antístrofe
(Objectivamente ceder)
Poderia resgatar talvez até
instintivamente a instintiva
percepção de uma rima-refrão
Recuperar quem sabe a sonoridade interior de uma canção
entristecida
E, talvez, a vírgula devolver ao devoluto lugar,
(ponto final não)
Pontuar assim os sinais, acentuando-me,
Desobstruir-me ocupando o espaço,
Assinalar as dúbias reticências de uma grafia abatida
A propósito de uma proposição, (...),
Previamente prescindir da prévia representação
Desnudar todas as hipérboles, descerrar todas as
metáforas,
Prosar-me, sem ênfase, num poema pós contemporâneo
E em concrecto escrever-me num concreto neologismo lexical,
Erguer-me na erudita vanguarda de uma imagética retirada,
Circunscrever o exacerbado excesso à exacta dimensão da palavra
Talvez assim, pudesse ser finalmente poeta
E, então, num translucente verso-dizer-te
O que poderíamos Ser
Talvez....
ResponderEliminarpoeta....
artesão de metáforas
meu querido Poeta
ResponderEliminarPor vezes as entrelinhas constroem o poema e a palavra toma a medida exacta do ser.
Como sempre as palavras falham para comentar o que só o poeta consegue entender.
Um beijinho
Sonhadora
De verso em verso, vamos mergulhando na poesia, na densidade da sua composição. Em um túnel de informações, com quebras e retomadas do ritmo, da intensidade, voz & fala (considerando que não sejam a mesma coisa); desenho & signo: significados & significâncias, por mais que seu desejo, pulverizado ao longo da construção do poema, ou ao menos a leitura que ousei fazer da "phoné e da poiésis", seja o de abrir mão dos objetivos (?) comunicativos e de todas as regras da escrita, dando uma insubordinção ao poema, e nos conduzindo a caminhos onde ninguém mais foi, onde ninguém jamais pensou, com ou sem "rima-refrão", cada novo texto é inaugural, na forma, no conteúdo e na emoção, isso eu não nego jamais!
ResponderEliminarQuantas vozes e intenções nos trazes? O que lhe confere o caráter de grande poeta: o inexplicável e a dicotomia na sua escrita, Filipe.
Não passamos por aqui sem experimentarmos "os sabores e os saberes poéticos" da sua pena, sem percebermos a sacralização da sua arte, nesse fazer cuidadoso da escrita, com as palavras - a ortografia - , as concordâncias, a pontuação.
Um esmero morfológico e sintático, fazendo uso da palavra que encanta, a palavra cantada - e a palavra impronunciada no silêncio de um murmúrio que escapa dos meus lábios e que se "materializa" aqui: so-ber-bo, Filipe!
Todo o poema é desenhado, talhado, burilado com sofisticado esmero, algumas estrofes nos levam sempre ao ponto de partida, numa tentativa de recuperar o fôlego, e recompor a emoção, mas escolho o fragmento abaixo, porque ilustra muitas vezes o que também sinto:
"Talvez assim, pudesse ser finalmente poeta
E, então, num translucente verso-dizer-te
O que poderíamos Ser".
“On s’entend bien”, merci, Filipe, merci!
Bisou!
;))
Palavras com destino e vestidas de quereres inteiros.
ResponderEliminarbeijo
Podia ser a simples
ResponderEliminarLinha a linha
A palavra compreensível
O princípio
Sem redundâncias
Ter na palavra a exactidão
Objectiva, de ser o que não sou.
(e isso nunca!)
Ser simples na simplicidade
De um verso sem som
Ser lugar sem sentir
Mas não…
Talvez, se fosse simples
Seria fácil
Ser o corpo de um poema, só…
Sem excesso
E fazendo-se luz “dizer-te”
A verdadeira poesia.
Um poema sem dúvida com dualidade,
Encontrada por todos os versos
Digo este ser um poema sobre a poesia
E a “poesia da vida”
E as suas complexidades,
Onde demonstras bem tua escrita
Que nos deixa perplexos do teu talento.
Excelente e belo.
Beijinho
Não basta ser artesão de metáforas... "ser poeta é ser maior" " e mais do que se medir entre os seus iguais ...é sentir cada verso...cada rima... é estar à mesa e partilhar e comungar a mesma chama, a mesma prece .... sabendo por onde vai... sem nunca se perder na rama das metáforas, nos meros trocadilhos dos enfeites . ..___Bjo
ResponderEliminarBem, poderia discorrer sobre o que fui sentido ao longo da leitura do poema…Poderia dizer que fui sentindo uma musicalidade na composição da pauta de palavras de rima interna e repetição de letras…Poderia dizer que a fluidez argumentativa , como alguém que defende acerrimamente a vítima inocente, se compraz no seu próprio deslumbramento pelo resultado que vê nas expressões faciais do “público”…Poderia dizer que subentendi uma espécie de jogo entre o pensar sobre o verso ou a sua construção e o que afinal resulta do que escreveste …
ResponderEliminarPoderia dizer que, mesmo que quisesses a tal simplicidade, o verso nu, sendo afinal “poeta”, a verdade é que não serias tu…
Em suma, poderia dizer o que afinal disse!
Quem julga são os leitores e por mais definições ou abordagens que faças/ façamos, não se consegue ou deve definir poesia…
Uma forma muito subtil de questionar o verso. Tal como o vento, não te ouviu e o verso fez-se poema. Excelente, inteligente, meticuloso (com tudo o mais que venho dizendo nos comentários). E, sobretudo, sem uma mestria do significado lexical – uma das tuas marcas na poietica – não haveria a literariedade que revelas no que escreves.
Cumprimento-te…
Bjo, amigo Filipe :)
Poderia, mas quem iria construir as avenidas em meu pensamento?
ResponderEliminarSempre belo.
Beijinhos.
Gosto desta escrita ( e de mais algumas, as que li até agora) concreta! Palavras de rigor e à solta, buriladas, detalhes pontuados e claramente visíveis. Distintos. Percorrem-se os versos e fazem-me cogitar enquanto se sai num voo de espanto e rebeldia, de saberes e sentimentos.
ResponderEliminarObrigado pela partilha, vou ficar a lê-lo.
aka "Água das Pedras"
Grata pela entrada magistral no verso
ResponderEliminaré sempre um risco apetecível... o isco da tentação
invadir o verso? porque não?
na tentativa de retirar o pano e visualizar o côncavo...
e até rasgar o verso... crucificá-lo...porque não?
doce tentação... ampliar a miopia...
mas há vapores, fumos e florestas densamente povoadas...
nem lanças, nem pinças, nem machados ...
e depois o céu cadavérico comove, as sílabas trémulas...
mais vale render-se ao denso cru e sem grandes perturbações apreciar
longamente o lugar que se pisou...
A sua profunda dissertação inspirou-me, foi tão excelente quanto o poema ...há sempre uma certa transparência que nos desperta a curiosidade ...e os abismos, embora convidativos intimidam sempre_____Bjo
Volto ao poema e encontro,
ResponderEliminarA mesma beleza da tua escrita
Sublimada, por uma excelente declamação
Ritmada
Pausada
Numa voz que contempla todo o poema,
Dando-lhe todo um corpo.
Gostei mesmo muito.
Beijinho
Regresso e nunca sei de onde venho.
ResponderEliminarQuando chego aqui, encontro-me num poema magistralmente dito, proféticamente escrito.
E na geometria do distinto abstracto, no concreto e definido, repito-TE:
és poeta maior que o Universo cem pontos, sim cem, milhares pontos infinitos.
A poesia é uma linguagem que não se prende a representação, então abre para a possibilidade do SER emergir!
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