Num preciso instante o tempo é preciso
quando o movimento do mundo precisamente
invisível
faz convergir as horas
autónomas os espaços lassos
os percursos dispersos
em circunstancial coexistência
Na simultaneidade surgem as silabas
as consoantes as palavras
Na convergência acercam-se passos intersectam-se traços
Irrompe o ângulo
O tempo é abreviadamente escasso
Uma breve impertinência
impermanente
Que lentamente se dissolve na memória
Inóspito depósito de indizíveis incongruências
«Nunca te esquecer sem te
lembrar»
As palavras estendem-se num eco errante
Escutam-se confundem-se enredam-se
Enleiam-se no sopro de um vento adverso
Sussurram-se como liturgia fúnebre de um mito
( Mortas as palavras são
rosas)
As palavras ateiam-se
inflamam-se explodem
Deflagram no corpo exposto ao
passado
Todo o termo é instável movimento
Assim como oscilante é a raiz do medo
que nos forma
Indefinido pêndulo
Irregular compasso
Inevitável fissura
E se num acaso um rasgo rasga o tempo
Logo uma fenda no tempo se
pretende (amplitude)
Na palavra concreta incerta
Na distância incerta constante
Na palavra que aguarda distante
Digo horas vagas vazias
Na distância incerta constante
Na palavra que aguarda distante
Digo horas vagas vazias
Digo indefesa inerte implosão
Digo transgressão
Escrevo
Catarse circunstanciada circunscrevendo um esquecimento
Catarse circunstanciada circunscrevendo um esquecimento
(quase caminho)
Verso verso cinza cinza passo passo
Amigo poeta:
ResponderEliminaro seguinte e profundo verso "nunca te esquecer sem te lembrar" é fabuloso , sem jamais desmerecer todo o conjunto poético que com mestria aqui escreveste. Parabéns.Abraço.
Como muito bem observou W.Shakespeare :
"Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te."
Bravo, amigo Filipe!
Percorri nos versos o canto ao tempo,as palavras,a memória
ResponderEliminare vida-caminho.
Assim,o poeta confessa,o tempo é:
"Uma breve impertinência impermanente."
Onde:
"As palavras estendem-se num eco errante."
A memória circunscrevendo um esquecimento:
"Nunca te esquecer sem te lembrar"
Me remeteu a uma frase de música do Tim Maia:
"Pensei até em me mudar para um lugar que não exista
o pensamento em você..."
E um caminhar, quase caminho, de versos de amplitude de
singularidade (cinza), passo a passo na transgressão dos
significados paralisados na linha do tempo...
Gostei imensamente,Filipe!!
Bjo.
Uma estrada de tempo cansado
ResponderEliminarNecessário ao caminho
Como preciso destino que o tempo dita
Onde as palavras se enredam como heras
Que secam na procura do muro
Esquecendo que o solo sempre o é
“ nunca te esquecer sem te lembrar ”
A impossibilidade de lembrar algo que sempre está presente,
Como respiração
E talvez em errado verso
O poema se desconstrua
Errado não,
Porque “mortas as palavras são rosas”
Esquecidas, não importa onde…
Só que chamas, deflagram
Ainda que indefinido seja
O tempo é verso
E o verso voz
Apagando o rasto de um dia.
Para mim de uma beleza única e tua.
Perfeito, ler cada verso.
Beijinho
"Mortas as palavras são rosas"...
ResponderEliminarNunca as palavras morrerão, enquanto existirem poetas. As rosas nunca serão esquecidas, nem tampouco lembradas, porque são vida a fluir ao longo de versos sublimes num imenso e grande poema.
Adorei visitar o seu espaço. Parabéns!
Olá Filipe, é o seu um dos blogs mais lindos que já li, vou continuar lendo-lhe, para aprender cada vez mais.
ResponderEliminarOs poetas português, são para mim, uns dos mais admiráveis e sábios.
Se pudesse tocar o tempo, e lhe rasgar os véus das impossibilidades, diria-lhe: Quero apenas ser feliz!!! :)
Muitos abraços pra ti
''o tempo é abreviadamente escasso...'' para te ler.
ResponderEliminarmas sei as pétalas das horas mortas ( que são rosas negras de não esquecimento)
conheço a catarse da escrita, cinza a cinza, as letras que fazes palavras de fé.
adivinho-te o peito em fogo. a boca seca e o olhar para lá do infinito, onde moram as memórias.
Sempre um privilégio ler-te.
B
e
i
j
o
não abreviado.
(o comentário anterior tinha um erro)
Poeta
ResponderEliminarPudesse o tempo ter mais tempo e as memórias serem rosas vermelhas de sedução...talvez assim o poeta pudesse prender nas mãos o infinito.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
E eis-me a ler:
ResponderEliminar"Verso verso cinza cinza passo passo"
Maravilhoso!
Que singularidade. Que sincronia.
ResponderEliminarMemória, inóspito depósito... Gostei, Filipe.
ResponderEliminarBeijos!
as palavras, o tempo, o vento. que delícia, que vontade de "quero mais"
ResponderEliminardentrodabolh.blogspot.com
Tentativa de delimitar o espaço memória? Foi o que primeiro me ocorreu ao atentar no título. Contudo, versificando magistralmente na tua peculiar discorrência sobre o que for, o poeta confessa que apenas num breve instante se poderá “circunscrever uma memória de” – nunca nada se esquece ; os especialistas da matéria, conforme as escolas, acomodam-nas num qualquer lugar e, de facto, o tempo diacrónico pode atraiçoar a nossa memória. Nesta sequência enquadro este verso “Nunca te esquecer sem te lembrar”, aparentemente antitético…
ResponderEliminarAinda que queiramos centrar sincronicamente algo, tudo aparece em simultâneo. Daí a necessidade de treinar a concentração (talvez a escrita de um poema seja o seu grau máximo). E as palavras serão sempre pobres face à dimensão do que se sente, do que se quer exprimir (todavia aproximas-te bastante pela tua exímia adequação vocabular e colocação da palavra no verso). Não são mensuráveis com o tempo, o universo. Por isso são necessárias tantas linguagens para nos aproximarmos do incompreensível…
Colocar em poema a complexidade e riqueza dos teus inquietantes questionamentos, é uma tarefa hercúlea. Igualmente inquieta me deixas… Deixo-to, relevando
"Escrevo
Catarse circunstanciada circunscrevendo um esquecimento
(quase caminho)
Verso verso cinza cinza passo passo"
que entendo como palavras chave do poema.
Bjo, poeta :)