domingo, 6 de dezembro de 2015

ALÉM DAS FORMAS VISÍVEIS


Se o horizonte é o limite (da tua visibilidade)
Prolonga-te para além das formas visíveis

Num deslocamento intangível, estende a distância,
Distanciando-te, da perspectiva constante

Transcende a dimensão concrecta
Excede tal sensitivo constrangimento
Da incógnita evidência ignora a evidente percepção

Suprime dos convénios todos os limitados índices  
Desacredita toda a utopia reconhecida
Eleva-te acima de um mundo menor

Verás que todo o imaginário é plausível
E que nenhum delírio é ampliado

Alcançarás a dimensão não circunscrita do amor não transgressor


segunda-feira, 27 de julho de 2015

INCIDENTAL


Um pensamento último antediz o silêncio
Antedizendo os tempos longos, densos, pesados

A morte morre sempre lentamente e a ausência nunca é só

Sobrevivem viventes memórias num pesar perseverante
Avivando num olhar doído a dor d´esvaído olhar

Subsistem instantes supostamente decaídos 
Infindavelmente revividos em dividido tempo

A inexistência é       súbita
Numa pluralidade d´ausências, subitamente é     presencial

Na irrevogável privação da imortalidade 
No interior de um tempo irreversível 
Na tessitura de sobrevir sem sentido
Se reescreve, póstuma
A desavença da incidental sobrevivência

sexta-feira, 26 de junho de 2015

A Misteriosa Fraqueza do Rosto Humano


Não compreenderás a misteriosa fraqueza (que te confronta)
Não reconhecerás sequer o rosto

Não distinguirás, em difusa bruma, nenhuma utopia (evidente)
Nem uma única aspiração

Entenderás que existes, existes apenas, 
E que, brevemente, também essa existente continuidade cessará

Sentirás, então, que presságio algum te estava destinado
E que era a ti, somente, que incumbia determinar o caminho
(Exceptuando, talvez, os contornos dos atalhos incontornáveis)

Perceberás, tardiamente, a instabilidade do percurso que percorreste
Escutarás o progressivo ruir dos territórios (que não poderás deter)
A iminente insurgência de um tempo absurdo

Como Sartre, compreenderás a frágil existência do destino figurado
Ser Nada, senão a razão dialéctica de uma responsabilidade crítica

Recordarás, enternecido, a candura inaugural
E, por um brevíssimo momento, serás o tempo pleno
A remota idade, a vida remotamente feliz 
A época precedente à divergência das faces

Perceberás, mais tarde, a debilidade do sonho humano
Sentirás o progressivo desfazer dos fragmentos (que não saberás reter)
O gradual elevar do rosto inanimado

O levantamento de um tempo onde nenhum regressivo caminhar Te poderá regressar

Da vergada silhueta que (unicamente) subsistirá  
Não reconhecerás sequer o rosto






quarta-feira, 27 de maio de 2015

DO AMOR IMPOSSÍVEL



Do amor impossível diz-se invisível sua inevitabilidade

Como te dizer deste amor intransparente, que, sendo evidente, visível não é
Como incandescer tal translúcida chama

O amor é sempre imprevisto, sempre surpreendente, sempre-sempre indeclinável
Como negar a incerteza que se oculta na tua necessidade

Sinto-te num sonho profundo, memória num tempo-porvir, espera sem sequer suceder

Do amor impossível diz-se visível sua impossibilidade

Da descrença e das suas invisibilidades ocupam-se os passos das sombras
Num desvendar de névoas desnudo tua claridade, corpo-contraluz contendo minha densa escuridão

Do amor impossível digo ser visível sua inevitabilidade

Como contradizer este luminar sentir
Como extrair a rara luz da luz exacta


sexta-feira, 24 de abril de 2015

A SUPERFÍCIE PLURAL DA VOZ



Um inaudível silêncio inicia o precipício de um poema irrespirável

Ignorando da palavra a sua íntegra rasura 
Precipito a formulação de um verso inescutável
Sentindo, num único compasso, a superfície plural da voz

(Difícil é respirar (ardentemente) fraccionando a proporção do ardor)

Um intangível silêncio prolongando o princípio da irrespirabilidade
Suposta sobreposição de silêncio-silêncio, intermitentemente prolífero

Um silêncio inanimado no princípio passado de um informulado amor
  


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

SOMENTE SILÊNCIO SÓ


(       Do silêncio nem um som     )


Na intacta respiração de um pós-verso
Perto se escuta silente mundo  

Somos silenciosamente só

O sussurro substantivo de uma incógnita
O verso disperso em esparso branco

Do ruído remanescente somos somente
A insonora lembrança de um timbre ausente

Os braços desgarrados como ramos que se enlaçam 
A voz cingida em cingido corpo 
A incerteza d´incorpórea fragilidade

Somos somente silêncio só

Somos só
O intacto som de um silêncio

(     Somente    )

                                                                                                                  .