quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Um Outonal Tremor de Abandono








Havia do tempo uma idade      uma secreta urgência    uma ausência por habitar           
Havia um passo estruturado percorrendo                       
Uma essência estrutural
Havia uma ideia                             
Uma utopia inebriada num lirismo de olhar


Depois vieram as chamas     as farsas   os dramas   
A lírica tragédia de uma voz insana
Vieram os fogos    os incêndios       a combustão
Invariadamente vieram vezes vazias          vazias várias vezes vieram


Onde havia um luminar andamento há agora um tropeçar
Medos       arvoredos      relevos          
Densos      penosos        profundos
Uma colisão de destroços que fissura as ruínas de um mundo devassado
Fragmentos sombrios              absurdos vítreos num quebrar de espelhos


Há uma descrença lenta que dentro adentra                   
Um outonal tremor de abandono                   
Um instável equilíbrio no desequilibro de um grito


Digo recolhimento num silenciar de tumultos         e ascendo à lírica lucidez da loucura
Digo caminho num trilhar de palavras     e descendo à fulgente insânia que me sustenta
Ao limite do poema


Se é sombra o que escrevo     se negro é o tom do verso 
Na sombra me inscrevo          da escuridão me confesso             se assim enegreci



Às vezes recuso            às vezes refuto                às vezes contesto  
A labareda que cerca     a insone lamúria              o dolente infortúnio
A silenciosa indolência e a silente desistência

Este indigente perecimento    ausente   informulado   inabitado


Recuso este impercetível alinhamento de proposições
Este esboço de linguagem onde me resto palavra

Inflexo poema que não endireita
Palavra-fronteira    talvez território
Se de mim já não depende
Se de mim se escapa


Recuso principalmente este canto confuso e esta verve perturbada
Esta oração na pena fecundada
Este letárgico dissenso em melancólica dissensão
Este tempo dizendo
nada


.