sábado, 1 de novembro de 2014

OBVIAMENTE BAUDELAIRE



Feéricos fumos formam fulgentes formas 

E os versos, em frenesim, formam mundos artificiais



São trechos tecendo a trama de um tempo aditado

Estrofes expostas expondo uma aliteração asfixiante



São silabas convergindo à sombra de um sofrimento sublimado



Um clamor lírico suspenso na inércia

Um verso verbalizando tal sentir apavorado



Ditos paraísos são terras irreais

Desejos químicos desdizendo a mente

Pérfidos risos rindo perdidamente



Júbilos expelindo do desespero a dor

Metafísicos medos de um temor transcendente


Confrontos opondo-se num opulento desencontro



Fulgentes fumos expandem etéreos espaços

Precisamente absurdos, absurdamente divinos

Idealmente ideais



Ditos paraísos são terras surreais

Delírios de loucura irresistível

Volúpias imateriais de convulsa devassidão



Rapsódia de um tédio luminante

Ofuscando


A clarividência é tão insuportável...




domingo, 28 de setembro de 2014

TEMPO-AMPULHETA


__________________________________________________________________________ 
Cedo cedi ao mundo as madrugadas                      E à noite me entreguei em sombra.
Do mundo queria todas as utopias       Todas se perderam      Cinza na ruína dos dias.
______________________E assim, que fazer de mim?________________________
Apavora-me      O ruído das fontes      O marulhar das horas      O gotejar do tempo
Passando impassível                                                               Sem me olhar
Sem escutar meu grito                                           Sem tocar meu choro.
________________E assim, que fazer de mim?________________
A idade decompõe-se.               Fracções.                Instantes.
A memória                                               multiplica os dias.
Lugar semi-breve                          Marcado em mim.
O espaço-tempo                  converge e colapsa.
Sufoca-me                                 O Espaço.
Excede-me                  O tempo.
Não        sou        mais
que           um
ponto
.
S
              O
                                                         N
                  H
O
.
    .    
.
Como areia escorrem letras,
Estilhaços.  Versos de vidro e de aço.
Instável             O solo que sustem os dias.
Volátil               O chão que suporta os passos.
Este tempo que me torna               Palavra de pedra
Ânfora quebrada                                   Desalinhado linho.
E _____  s ____  t  ____  r ____ e  ____ m ____ e____  ç _____o.
Como se fosse tempo                                                Recém-chegado,
Como se fosse dor             Recém-nascida           Em permanentes águas.
Bago de uva sem rosa                                                            Meu corpo-urze.
Aro de fogo circular                                            Cingindo meu redundante pensar.
_______________________E assim, que fazer de mim?_________________________
____________________________________________________________________________ 


domingo, 17 de agosto de 2014

Um Incêndio Arde em Silêncio



«Um incêndio arde em silêncio
Ardência convulsionada no contorno de corpo nu  
Irrespirável vestígio em crepitante surdina
Cinza incandescente contraindo inconstante esquecimento»

Marcar o verso lineal do pós-poema  
No sibilar de um nome sem anseio incerto
No enfrentamento do rosto que nos confronta

Dissentir a récita incessantemente repetida
O infausto chamamento de um verso-invernia

Percorrer no corpo o corpo do tempo
Segmentando do vento um sopro visceral

Negar o negro soberbo
Iluminando o território irregular do obscurecimento

Firmar num recém-tempo a neo-memória 
Num sofrido temor de furtivo futuro


.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

A Inadiável Ceifa da Raiz



Do solo sustenho a superfície que sustém meus insustentados passos
O gravítico constrangimento que me amarra à terra
A insustentável deserção de uma órbita incircular

Sem prosseguir prossegue o tempo
Seguidamente usurpando sua utópica cronologia

Num flamejar d´etérea perenidade
Inflamam-se as chamas inertes
Ateiam-se os fogos perpétuos
Interdiz-se a circunstancial cinza de uma luz carbonizada

Sem prosseguir o tempo prossegue
Sucessivamente subvertendo seu andamento

Abre-se a sede num verso brevemente ardente
Seivas-correntes escorrendo convoluto corpo
Intimamente indagando seu interrompido movimento

Num sopro o sopro recua
Sem respirar, contrai-se o corpo ofegante

Sem prosseguir prossegue o tempo
Adiantando a inadiável ceifa da raiz

.

sábado, 5 de abril de 2014

O Traço Vert|cal de um Círculo Inacabado




Do tempo | vasto | a mais sucinta ilusão |                        


A ordem das coisas é catastrófica
E incógnita é | sua dispersa disposição

A causa das coisas evola-se em sua intangibilidade
Assim | insondável | permanece a procedência que causa

E assim permaneço | num cíclico ressurgimento
No traço | vertical | de um círculo inacabado


O pretérito é princípio | na incerta medida do passado que lhe sucede
| No antepassar da desordem que | ordenadamente | o persegue

No interior de um círculo inacabado |
concebe-se | circuncêntrica | irregular espiral

Numa dialéctica fragmentária |
o tempo tangencial descreve-se numa infindável circunferência
                                                          | infinitamente fragmentada
                                                          | dubiamente tangente


| Do tempo | devastado | o mais longo rasto |


Procedo de uma idade procedente 
Subsisto | num deslocamento inerte
Na perenidade | remota | de uma demora circular
No crítico reordenamento do tempo | inevitável | 


domingo, 2 de março de 2014

Circunscrevendo um Esquecimento




Num preciso instante o tempo é preciso
quando o movimento do mundo   precisamente invisível
faz convergir as horas  autónomas   os espaços  lassos   os percursos  dispersos
em circunstancial coexistência


Na simultaneidade surgem as silabas   as consoantes    as palavras
Na convergência acercam-se passos   intersectam-se traços
Irrompe o ângulo


O tempo é abreviadamente escasso
Uma breve impertinência      impermanente
Que   lentamente   se dissolve na memória
Inóspito depósito de indizíveis incongruências

 «Nunca te esquecer sem te lembrar»


As palavras estendem-se num eco errante
Escutam-se   confundem-se   enredam-se
Enleiam-se no sopro de um vento adverso
Sussurram-se como liturgia fúnebre de um mito

( Mortas   as palavras são rosas)


As palavras ateiam-se   inflamam-se    explodem
Deflagram no corpo exposto   ao passado

Todo o termo é instável movimento
Assim como oscilante é a raiz do medo   
                                                           que nos forma
                                                                                  Indefinido pêndulo
                                                                                Irregular compasso
                                                                            Inevitável fissura


E se    num acaso    um rasgo rasga o tempo
Logo uma fenda  no tempo se pretende     (amplitude)


Na palavra concreta          incerta
Na distância incerta          constante
Na palavra que aguarda        distante


Digo horas vagas vazias
Digo indefesa inerte implosão
Digo transgressão


Escrevo
Catarse circunstanciada circunscrevendo um esquecimento
(quase caminho)
Verso verso    cinza cinza   passo passo


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

CONTRA-CORRENTE (Uma Neurótica e Autocrítica Proposta Linguística para uma Neo Linguagem)





(Leitura de Ana Celeste Ferreira
a quem muito agradeço a honra e o privilégio)





Poderia retomar do verso singular a sua singular simplicidade
Abdicar da intangível abstracção que não se alcança
Renunciar à morfológica anatomia de uma linguagem  
Cessar este recurvado curso contra a corrente


Poderia desconstruir-me numa estrófica desconstrução
Sucumbir à singularidade linguística de um neo-poema
Fraccionar o verso-
- uno numa dualidade de linhas fragmentadas
Render-me ao objecto concrecto da antístrofe  
(Objectivamente ceder)


Poderia resgatar       talvez até instintivamente     a instintiva percepção de uma rima-refrão
Recuperar    quem sabe      a sonoridade interior de uma canção entristecida


E, talvez, a vírgula devolver ao devoluto lugar,
(ponto final não)
Pontuar assim os sinais, acentuando-me,  
Desobstruir-me ocupando o espaço,
Assinalar as dúbias reticências de uma grafia abatida


A propósito de uma proposição, (...),
Previamente prescindir da prévia representação
Desnudar todas as hipérboles, descerrar todas as metáforas,
Prosar-me, sem ênfase, num poema pós contemporâneo


E em concrecto escrever-me num concreto neologismo lexical,
Erguer-me na erudita vanguarda de uma imagética retirada,
Circunscrever o exacerbado excesso à exacta dimensão da palavra


Talvez assim, pudesse ser finalmente poeta
E, então, num translucente verso-dizer-te
O que poderíamos Ser


sábado, 4 de janeiro de 2014

A Nocturna Vigília do Pranto Oculto das Sombras





As sombras invadem um mundo como hordas semblantes   
Povoam abandonados espaços    
Apossam-se na escuridão   da escuridão da luz errante

Em taciturno caos avultam-se decrépitas figuras
Silhuetas de destituídos contornos
Esbatidas no retraçar de um símbolo   inscrito em infinitos círculos

Cingidas   as sombras agigantam-se    inclinam-se sobre o corpo    abatem-se sobre a face

É íngreme o caminho conducente à ascensão
A nocturna vigília do pranto oculto das sombras


As sombras apoderam-se da razão como hordas errantes
Avolumam-se no obscurecimento da memória 
Apartam da luz   a luz semblante da escuridão

Iluminadas    as sombras são labaredas insanas  
Silhuetas esparsas de um fogo
Incêndios ocultos no corpo  

Inquieta é a noite que se estende num sibilar de vento infame
Débil é o desígnio ocluso que se sente silêncio impronunciado

Silenciadas   as sombras arrastam-se    contraem o rosto    desabam sobre o corpo

Árdua é a crisálida do monocroma de uma lágrima
Na nocturna vigília do pranto oculto das sombras


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