terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Um beijo à noite na palma da mão

 

Não te sentirei num poema só

Estiveste sempre acima do verso

Pertíssimo da plena plenitude

Assim debruçada sobre o precipício

 

(… um beijo à noite na palma da mão …)

 

Eras a mãe-menina saltitando pela moldura

no rebordo de um mundo enclausurado anteriormente

O movimento que rasgava o horizonte para além do infinito

A luz incindindo radiosa sobre eu-criança

 

(… um beijo à noite na palma da mão …)

 

“Cinco espaços”, “Seis momentos”, sete medos e mais versos

Tua voz fluindo pelas falésias sublimes

Nove meses vezes três

Teu corpo incorporando noutro corpo corpo teu

 

(… um beijo à noite na palma da mão …)

 

Aquietaste os emudecimentos trémulos da fragilidade humana

Desdizendo a subversão frenética desta terra

Resististe à desordem indigna com a candura dos poetas

Sossegando-a em teus braços

 

 (… e um beijo à noite na palma da mão …)

 

 

Por vezes a vida evade-se em brasa incandescente

Subsistindo ardente à aflição do retorno

Resistente somente à impossibilidade do tempo atrás voltar

 

A vida é inviável

quando a tristeza que comove ternamente nos enlaça


Para além do tempo um poema é quase nada


Nenhum de nós te sentirá num poema só

Mãe-Metáfora

 

(… um beijo à noite na palma da tua mão …)