segunda-feira, 23 de março de 2020

À Distância de um Abraço



Estão desertas as praias da Normandia
estão desertas e vazias

Agora, na linha da frente erguem-se retiros sobre o asfalto
e aqueles que entre nós deram nome à bravura

Quando um sopro é um dedo preso no gatilho
quando respirar ressoa como o silvo de uma bala
quando febril é a ferida que sufoca a esperança
                                                                             
Nós fechados, trancados, esperando, aguardando, guardados
As mãos apartadas à distância de um abraço

O medo propaga-se por contágio
Contagiando o próprio medo
Até que um medo oposto se erga acima dos escombros

Na frente confronta-se a morte inútil
aqueles que entre nós deram nome à coragem  
com o corpo defendendo corpo outro
assegurando
que a vida subsistirá acima da morte

Ao destemor um tributo
Num poema      à distância de um abraço



1 comentário:

  1. Mas o medo também estimula a superação, a criação, a busca para contê-lo.
    Ainda que "à distância de um abraço".

    Poema profundo que nos leva ao centro de nós mesmos, das nossas ações, quem somos e o que queremos.

    A pena do poeta sempre a traçar linhas e caminhos desconcertantemente exatos.

    Beijo, Filipe!

    :)

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