quinta-feira, 11 de agosto de 2016

DA CERTEZA PLANA


Da certeza plena resta apenas a ignorância absoluta
A firme convicção de que somente a dúvida é ampla e extraordinária

(A incerteza é profundamente vasta, inteiramente enigmática, incertamente explicável)

Percorrendo demoradamente a negrura do tempo, questionando-o incertamente iluminado
Compreendo, talvez, o aparente desentendimento da existência angustiada

Sobre a certeza plana pairam fragmentos dúbios
Convencimentos ambíguos distorcendo o horizonte de um mundo imaginário
Desconstruindo a oblíqua arquitectura da realidade suposta

Da evidência plena sobra apenas a absoluta divergência
A concrecta demonstração de uma indeterminação abstracta

(Aparentemente compreensível, convenientemente inexacta, evidentemente inexplicável)

O entendimento provém da incerteza e da sua sistemática interrogação

3 comentários:

  1. A única certeza que o sujeito poético parece achar admissível é que a “certeza plena” inexiste… sendo constituída por uma multiplicidade de dúvidas (amplas e extraordinárias), conduzindo-nos à ideia de que existe uma “ignorância absoluta” nesta “certeza plena”, já que, quanto mais certos estamos de termos as certezas, mais ignorantes somos por cegamente crermos nas nossas certezas como verdades irrefutáveis.
    A dúvida, a incerteza, é “profundamente vasta”, alastrando-se, portanto, em todas as direcções, sendo “enigmática” e apenas “explicável” de um modo incerto (ou não seria incerteza, acrescente-se).
    Percorrendo o tempo, surgem mais incertezas (será o tempo negro e iluminado em simultâneo? será o nosso desentendimento suficiente para nos causar uma “existência angustiada”?)
    Mas a ideia de certeza, sendo supostamente clara e óbvia, assemelha-se a um plano. A algo que nos chapa com uma visão, incutindo-a em nós. Nesse plano, “pairam fragmentos dúbios” porque aquilo que consideramos certo é um “convencimento ambíguo” que distorce a realidade com a sua ilusão/ficção.
    A “certeza plena”/”evidência plena” é, por conseguinte, uma “absoluta divergência”. Uma tentativa de congregação de uma multiplicidade de dúvidas divergentes que não convergem de nenhuma forma.
    Numa aparência de compreensão, numa inexactidão de certezas, resta a certeza que o entendimento surgirá da dúvida, da incerteza, do questionamento… e de uma “sistemática interrogação” de todas as certezas que se vão ilusoriamente criando. Dúvida a dúvida, perfaz-se um caminho incerto que se aproxima da certeza sem nunca a alcançar. Só assim se dão dois passos em frente, depois de se retroceder um… avançando e recuando continuamente.

    C.M.

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  2. Os questionamentos dialéticos nos levam a complexidade
    de pensar a vida, mas viver requer esvaziar a mente,
    respirar e sentir. Os caminhos de saber fazer as
    perguntas são mais profundos que as respostas e
    isso é muito bom também.

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  3. (Eu já não sei de mais nada, nem de certezas nem de plenitude.
    O que sei é que continua ser um prazer estar aqui

    Beijo
    :) )

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