E se o universo tempo
algum contiver
E o passado não se perder
no esquecimento
E se o futuro já passou
sem sequer suceder
(Porque aguarda a madrugada?)
(Porque aguarda a madrugada?)
Num universo sem tempo, o presente será sempre
atemporal
Simultaneamente
sobrepondo ao presente passado o futuro
pressuposto
E se «O Poema de Julian Barbour»
exceder sua própria metáfora
E, num outro presente, agora-presentemente-distante,
sua demonstração tiver já sucedido
Num tempo perpetuamente descontínuo
A memória cronológica será continuamente coexistente
Sincronicamente desvendando em reminiscências, suas intemporais
pré-existências
Em sincronia
decifrando seu paradoxo primordial
O tempo nunca « É » Somente
ilusão
E se tal « Sucedimento » transcender
sua ilusória alegoria
O tempo incontido negará
sua imprópria predestinação
Contradizendo o princípio
do eterno retorno
Ordenando a memória de
acordo com sua inconveniência
Inibirá o ruído, silenciando
todos os definitivos silêncios
Então,
Caminharei aleatoriamente
pela cronologia do tempo não datado
Outrora alterando a
pressuposta pré-existência
Abreviando a distância
que determina minha espera
Passando a contar o tempo em vésperas
Não havendo a noção de tempo linear com que estamos habituados a lidar, então o passado foi, é e será, o presente é, será e foi e o futuro será, foi e é.
ResponderEliminarDeste modo, o passado existe sempre (como o presente existe sempre e o futuro também). Como consequência, o esquecimento não é possível porque o passado não chega a ser algo que passou ou, tendo passado, também passa e passará, não sendo possível perdê-lo.
Todas estas possibilidades – de repente postas sobre a mesa – nos levam a interrogar o porquê da demora da chegada de algo (“Porque aguarda a madrugada?”) já que esse algo, se não é presente, há-de ser passado ou futuro e, sendo passado ou futuro é, também, presente.
Sob estas possibilidades, então o que é possível agora pode já ser verdade num outro tempo e as demonstrações do que agora se considera como uma hipótese já terem ocorrido.
Estamos perante um Ser e Não Ser em vez de um Ser ou Não Ser, onde o que existiu é e será, e o que existirá existiu e existe. Assim sendo, o nosso modo de sentir o tempo é “somente ilusão” e a ideia de predestinação toma a forma de uma impossibilidade, já que nada se pode prever num tempo que é simultaneamente todos os tempos possíveis não sendo, portanto, nenhum.
O tempo descontínuo é puro movimento aleatório, não dando margem para “definitivos silêncios”, nem para ruídos, nem para memórias, nem para regressos.
Mas se o tempo é assim tão imprevisível e multifacetado, estamos sempre na véspera de algo que será igual a tudo o mais: um presente que é também passado – e, também, futuro. Podendo estas vésperas serem substituídas por amanhãs ou hojes.
Um poema complexo baseado numa ideia difícil de transmitir, já que toda a noção de espaço-tempo é confusa e altamente não-intuitiva, simplesmente porque é difícil imaginar o tempo como algo não-contínuo.
Os tempos sobrepõem-se, a própria noção de cada um dos tempos torna-se ambígua, a ordem é posta em causa, perdem-se as referências e, simultaneamente, há a situação estranha do vazio coexistir com a imensidão.
Um poema que nos faz pensar na própria noção de tempo, e no nosso lugar nele.
C.M.