quarta-feira, 1 de junho de 2016

O TEMPO CONTADO EM VÉSPERAS


E se o universo tempo algum contiver
E o passado não se perder no esquecimento
E se o futuro já passou sem sequer suceder
(Porque aguarda a madrugada?)

Num universo sem tempo, o presente será sempre atemporal
Simultaneamente sobrepondo ao presente passado o futuro pressuposto

E se «O Poema de Julian Barbour» exceder sua própria metáfora
E, num outro presente, agora-presentemente-distante, sua demonstração tiver já sucedido

Num tempo perpetuamente descontínuo 
A memória cronológica será continuamente coexistente
Sincronicamente desvendando em reminiscências, suas intemporais pré-existências
Em sincronia decifrando seu paradoxo primordial

O tempo nunca      « É »          Somente ilusão


E se tal « Sucedimento » transcender sua ilusória alegoria  
O tempo incontido negará sua imprópria predestinação

Contradizendo o princípio do eterno retorno
Ordenando a memória de acordo com sua inconveniência
Inibirá o ruído, silenciando todos os definitivos silêncios  

Então,
Caminharei aleatoriamente pela cronologia do tempo não datado
Outrora alterando a pressuposta pré-existência
Abreviando a distância que determina minha espera
Passando a contar o tempo em vésperas


1 comentário:

  1. Não havendo a noção de tempo linear com que estamos habituados a lidar, então o passado foi, é e será, o presente é, será e foi e o futuro será, foi e é.
    Deste modo, o passado existe sempre (como o presente existe sempre e o futuro também). Como consequência, o esquecimento não é possível porque o passado não chega a ser algo que passou ou, tendo passado, também passa e passará, não sendo possível perdê-lo.
    Todas estas possibilidades – de repente postas sobre a mesa – nos levam a interrogar o porquê da demora da chegada de algo (“Porque aguarda a madrugada?”) já que esse algo, se não é presente, há-de ser passado ou futuro e, sendo passado ou futuro é, também, presente.
    Sob estas possibilidades, então o que é possível agora pode já ser verdade num outro tempo e as demonstrações do que agora se considera como uma hipótese já terem ocorrido.
    Estamos perante um Ser e Não Ser em vez de um Ser ou Não Ser, onde o que existiu é e será, e o que existirá existiu e existe. Assim sendo, o nosso modo de sentir o tempo é “somente ilusão” e a ideia de predestinação toma a forma de uma impossibilidade, já que nada se pode prever num tempo que é simultaneamente todos os tempos possíveis não sendo, portanto, nenhum.
    O tempo descontínuo é puro movimento aleatório, não dando margem para “definitivos silêncios”, nem para ruídos, nem para memórias, nem para regressos.
    Mas se o tempo é assim tão imprevisível e multifacetado, estamos sempre na véspera de algo que será igual a tudo o mais: um presente que é também passado – e, também, futuro. Podendo estas vésperas serem substituídas por amanhãs ou hojes.

    Um poema complexo baseado numa ideia difícil de transmitir, já que toda a noção de espaço-tempo é confusa e altamente não-intuitiva, simplesmente porque é difícil imaginar o tempo como algo não-contínuo.
    Os tempos sobrepõem-se, a própria noção de cada um dos tempos torna-se ambígua, a ordem é posta em causa, perdem-se as referências e, simultaneamente, há a situação estranha do vazio coexistir com a imensidão.
    Um poema que nos faz pensar na própria noção de tempo, e no nosso lugar nele.

    C.M.

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