quinta-feira, 31 de julho de 2014

A Inadiável Ceifa da Raiz



Do solo sustenho a superfície que sustém meus insustentados passos
O gravítico constrangimento que me amarra à terra
A insustentável deserção de uma órbita incircular

Sem prosseguir prossegue o tempo
Seguidamente usurpando sua utópica cronologia

Num flamejar d´etérea perenidade
Inflamam-se as chamas inertes
Ateiam-se os fogos perpétuos
Interdiz-se a circunstancial cinza de uma luz carbonizada

Sem prosseguir o tempo prossegue
Sucessivamente subvertendo seu andamento

Abre-se a sede num verso brevemente ardente
Seivas-correntes escorrendo convoluto corpo
Intimamente indagando seu interrompido movimento

Num sopro o sopro recua
Sem respirar, contrai-se o corpo ofegante

Sem prosseguir prossegue o tempo
Adiantando a inadiável ceifa da raiz

.

5 comentários:

  1. Querido Poeta

    O tempo passa sem esperar por nós...mas as palavras são eternas, mesmo depois do corpo ser raíz.

    Um beijinho com admiração
    Sonhadora

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  2. Muito bela a (tua) forma de expressão poética sobre a impermanência

    da vida, a fragilidade do tempo presente diante da

    "inadiável ceifa da raiz" (morte).

    E a vida continua na urgência de ser no tempo sempre presente...

    Gostei imenso deste teu poema,pois com a (tua) excelência

    já conhecida, a profundidade filosófica,ele vai além, tem uma

    musicalidade que evoca um sentir dorido,como um sopro

    que transcende num choro que lentamente permanece...


    Bjo.

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  3. Como árvore milenar sustendo-se ao vento
    Sabendo que as tempestades sempre voltam
    Agarrando-se á terra Sem querer indo…
    Com a passagem do tempo
    (O tempo é fogo que arde
    Chamas que apagam)
    Sonhos que respiram na memória do sol
    Um tempo onde o tempo não é tempo
    (não sabe da manhã ou noite, só existe)
    Mas, Ainda é tempo de permanecer de ser
    (Uma vez mais)
    Uma vez mais
    Adiantam-se as horas
    Morrem todas as esperas…

    Um poema onde a vida é protagonista
    não é sempre?
    existe sempre um fim ou talvez não…
    Vi este teu poema de duas formas vida, meio e fim
    Ou um outro, de amor que corre como seiva pelo corpo
    Ofegante
    Como escrita dentro da escrita.

    Por isso tenho tanta admiração pela tua poesia
    Há sempre algo que ultrapassa…
    Um prazer ler-te
    Beijinho

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  4. Na terra assentam os nossos passos, no tempo retardamos a essência da alma. Contudo prosseguimos, absorvendo os instantes no verso plasmados. O tempo tem o condão de nos esvaziar, sem darmos conta.

    Repito-me: o cuidado e adequadíssimo léxico, a reflexão filosófica sobre a existência terrena, a peculiaridade da tua poesia.
    Mais um poema de excelência, amigo Filipe. Um enorme prazer ler-te.

    Bjo :)

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  5. O inadiável invisível e o todo absoluto. Filipe, é um prazer ler-te. bjs

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