I.
Há no ponto final um traço conclusivo
Um peremptório termo
Um concludente absolutismo que me atormenta.
Como pausa maior da voz
O ponto é um tempo sustado num só sinal
Um lugar abrupto
Um espaço curto
Um sopro subordinado
O tom que separa o tom
Há no ponto final uma ausência
Um idioma ausente
Um silêncio cansado
É o ponto que encerra a fala ou a fala encerra o ponto?
II.
Há na vírgula um intervalo inconclusivo
Uma inflexão desconhecida
Uma inconcludente relatividade que me inquieta.
Como pausa menor da voz
A vírgula é um tempo dobrado num exíguo sinal
Um conciso sulco
Um respirar avulso
O espaço entre espaço maior
Há na vírgula uma conjugação adversa
Uma sequela perversa
Um silêncio semi-breve
É a vírgula que suspende a fala ou a fala suspende a vírgula?
III.
Há na reticência uma fala muda
Uma entoação desnuda
Uma ênfase insubordinada
Uma sensação de impunidade que me seduz
Como voz sem voz
A reticência é um indício, um vestígio, um sinal
Um tempo imprevisto
Um espaço oculto
Um lugar de culto
O rasto a desvendar
Há na reticência uma voz suspensa
Uma insinuante subjectividade
Um canto por cantar
É da reticência que nasce a fala ou da fala nasce a reticência?
.
Filipe, eu nunca me emocionarei o suficiente, perante ao Porta-sonho. Cada vez que eu venho te ler sou invadida por tantas sensações: desde admiração, estupefação, estranhamento, incredualidade, alumbramento, entre outras tantas que eu poderia dizer.
ResponderEliminarExtrair sentimento, matéria poética, de coisas tão corriqueiras, quase banais, não é um ofício fácil, e nem para um qualquer. Que esmero de escrita, ainda suspiro diante do texto.
Eu só ousaria dizer que entre a 'sensação de impunidade' aqui descrita, eu ficaria com a transgressão que me seduz. A reticência para mim tem um quê de transgressão, de continuidade, de espaço infinito ainda por acontecer. Gosto da suavidade da vírgula; entendo o ponto final, como um pressuposto para novos começos (detesto em particular a rigidez do ponto de exclamação, que aqui não faz parte do contexto), e sou apaixonada pela reticência.
Beleza de poema, não há como ficar indiferente diante dele. Ele é todo provocação...
Um beijinho!
;)
sem necessidade de pontuação porque é vibrante continua expoente crescente a tua escrita já eu exclamo-me nas reticências do ponto e virgula sem interrogação em dois pontos travesssão ler-te é descoberta constante sem direcção com sentido em sim e não
ResponderEliminarb
e
i
j
o
Luna (não consigo comentar com o link)