Cedo cedi ao mundo as madrugadas E à
noite me entreguei em sombra.
Do mundo queria todas as utopias Todas
se perderam Cinza na ruína dos dias.
______________________E
assim, que fazer de mim?________________________
Apavora-me O
ruído das fontes O marulhar das
horas O gotejar do tempo
Passando impassível Sem me olhar
Sem escutar meu grito Sem tocar
meu choro.
________________E
assim, que fazer de mim?________________
A idade decompõe-se. Fracções. Instantes.
A memória multiplica os dias.
Lugar semi-breve Marcado em mim.
O espaço-tempo converge
e colapsa.
Sufoca-me
O Espaço.
Excede-me O tempo.
Não
sou mais
que um
ponto
.
S
O
N
H
O
.
.
.
Como areia escorrem letras,
Estilhaços. Versos de vidro e de aço.
Instável O solo que sustem os dias.
Volátil O chão que suporta os passos.
Este tempo que me torna Palavra de pedra
Ânfora quebrada Desalinhado linho.
E _____ s ____ t ____ r ____ e ____ m ____ e____ ç _____o.
Como se fosse tempo Recém-chegado,
Como se fosse dor Recém-nascida Em
permanentes águas.
Bago de uva sem rosa Meu
corpo-urze.
Aro de fogo circular Cingindo meu redundante pensar.
_______________________E
assim, que fazer de mim?_________________________
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Um “clássico” teu. Um dos teus melhores de sempre. Um poema deslumbrante.
ResponderEliminarA musicalidade do poema prende-se de tal forma na memória que mal começo a ler a primeira palavra de um dos seus versos, todas as outras afluem naturalmente e sinto-me a lê-lo, não no ecrã, mas directamente a partir da memória.
Poucas vezes pude sentir um conceito, o Belo, deixar seu reino abstrato para se materializar. E tua pena, assim o fez, Mestre. Um poema que alia a profundidade do sentir com a exatidão da forma, só poderia nascer de ti, Poeta Grande. Realmente, magnifico! Muito grato, pela joia que tu destes a nós outros.
ResponderEliminarAbraços.
Os comentários anteriores, Filipe, dizem da minha estupefação ante o texto: belíssimo, tanto pelo conteúdo, quanto pela pluralidade de leituras, ainda pela forma: mais, pela consistência de ambas as partes da ampulheta, entre o sonho. Abraços. Pedro.
ResponderEliminarCedo chegaram os dias nublados
ResponderEliminarA sombria sombra cortante
As pesadas memórias
E o sonho morre e nasce, Entre o tempo
que é areia que escorre pelas mãos
A fragilidade de um vidro caído
A força do sonho, sempre
Profundo tocante
Graficamente magistral
(este poema, foi dos teus primeiros que li e que me fez render absolutamente
á tua escrita)
Beijinho
E assim se desenham letras com lábios principescos de sabor a baunilha.
ResponderEliminarPorque a música é o silêncio de encontro ao peito.
E o sonho, o respirar do poeta. O TEU respirar.
Belíssimo entre as brumas da memória e o grafismo estrondoso. PoemARTE.
Bjinhos
Um poema no qual o sujeito poético disseca o seu eu emotivo, desencantado e sufocado por um tempo e espaço que o espartilham, que o estilhaçam, culminando num quase grito “ E assim, que fazer de mim?”.
ResponderEliminarUma mensagem belíssima, desenhada numa estrutura formando uma ampulheta, sendo que, na sua estreiteza, ao colocar a palavra sonho, remete para a dificuldade de, neste estado de desalento, ter ânimo para tal desiderato.
Uma obra-prima, amigo Filipe!
Meu beijo :)