sábado, 4 de janeiro de 2014

A Nocturna Vigília do Pranto Oculto das Sombras





As sombras invadem um mundo como hordas semblantes   
Povoam abandonados espaços    
Apossam-se na escuridão   da escuridão da luz errante

Em taciturno caos avultam-se decrépitas figuras
Silhuetas de destituídos contornos
Esbatidas no retraçar de um símbolo   inscrito em infinitos círculos

Cingidas   as sombras agigantam-se    inclinam-se sobre o corpo    abatem-se sobre a face

É íngreme o caminho conducente à ascensão
A nocturna vigília do pranto oculto das sombras


As sombras apoderam-se da razão como hordas errantes
Avolumam-se no obscurecimento da memória 
Apartam da luz   a luz semblante da escuridão

Iluminadas    as sombras são labaredas insanas  
Silhuetas esparsas de um fogo
Incêndios ocultos no corpo  

Inquieta é a noite que se estende num sibilar de vento infame
Débil é o desígnio ocluso que se sente silêncio impronunciado

Silenciadas   as sombras arrastam-se    contraem o rosto    desabam sobre o corpo

Árdua é a crisálida do monocroma de uma lágrima
Na nocturna vigília do pranto oculto das sombras


.

17 comentários:

  1. Perfeito como sempre Filipe. Um bom ano! Beijinhos.

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  2. poema-diamante
    prazer em forma de leitura!



    forte abraço

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  3. Em todos nós habita uma ou várias sombras... Saibamos abrir a porta à luz...

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  4. "Árdua é a crisálida do monocroma de uma lágrima
    Na nocturna vigília do pranto oculto das sombras"

    Gostei muito deste lugar da crisálida, tanto que parece uma fotografia, ou um quadro em exposição quando me sento em frente dele e me debruço lentamente em direcção ao hipnotismo.

    Obrigada!

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  5. A imagem com a qual ilustras o poema, caiu em mim como uma teia de aranha, cujas sombras deformam a geometria do traçado, um emaranhado de sentimentos, de confusos pensamentos, um não saber para onde ir, e porquê ir.
    Como se o caos interior não bastasse, há ainda um complô da natureza para insuflar, para alimentar a inquietude vivida no interstício do dia e da noite; no espaço da sombra e da luz; naquele sibilar do vento, que amiúde irrompe o silêncio negror, com ínfimos focos de luzes, como se estivesse a dizer, que em algum outro lugar do planeta, estão fazendo a leitura do diário do tempo... E a mortal agonia do processo de transformação da crisálida, está terminando.
    Um poema que nos liberta de nós mesmos, que alimenta a nossa imaginação, nos move rumo à outras interpretações, e sempre alicerÇado na filosofia, e que eu amo.
    Eu me atreveria a dizer que, " A Nocturna Vigília do Pranto Oculto das Sombras", resultou em parte, de uma interpretação quase autoral e seminal de uma certa "Inquietude"

    Senti saudades de vir aqui, e a ausência foi necessária, dorida. Sofri. Mas estou de volta.

    Um beijo!

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  6. Em tempo: que 2014 seja um ano com mais alegrias, feliz você, Filipe, sempre que possível!

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  7. Neste teu poema, a complexidade,a densidade e a genialidade de

    composição literária,melódica e filosófica são surpreendentes.

    O poema leva-me a vários olhares:

    - As sombras manisfestam-se na escuridão, invadem espaços

    de fragilidades aparentes, sendo urgente a "a nocturna vigília

    do pranto oculto das sombras"...

    - Sombras vestidas do esquecimento da obscura memória

    e dicotomizada razão...

    - A lágrima no seu percurso libertador, evoca o sentir

    ao caminho que ascende a luz...

    Ler-te é uma experiência indescritível, diante da tua escrita que

    proporciona um mergulho abismal, além dos

    significados e significantes...

    Por isso, grata Filipe!

    Bj.

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  8. como sombras que perseguem
    nos espaços quase sem espaço
    onde emerge a chama

    (tambem a luz é sombra
    tambem a sombra pode ser luz no traço exato)

    quando o caminho é percorrido
    e as sombras se esbatem umas contra as outras

    nas labaredas são como espelhos
    mudos rostos
    que correm em labiríntico espaço

    porque na noite nasce uma crisálida sem cor
    sem voz.
    onde há sombra
    ( tambem a sombra mostra o caminho da luz)


    um poema onde a razão é procurada,
    esventrada,
    entre o invisível e o visível


    como sempre,
    nas tuas palavras
    caminhos poéticos que nos dão imagens surpreendentes.


    beijinho



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  9. O que dizem as sombras?... Talvez que a luz está perto...

    Um abraço

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  10. Querido Poeta

    Que a luz rompa a escuridão por onde as sombras gostam de caminhar.
    Um poema que vai para além das palavras. Sublime.
    Feliz 2014


    Um beijinho
    Sonhadora

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  11. Não é por acaso que se costuma dizer que até da própria sombra se tem medo.

    Este é um poema em que as palavras chave sombras – escuridão/noite deambulam pelos espaços ocupando-os com danças fantasmagóricas como se fossem almas penadas ou carpideiras de mortos-vivos. Versos de visões, quase pesadelos, quase labirínticos.

    Conforme o espaço, a direção, a luz, assim a sombra nos disforma (lembrei-me de Platão…), tornando-nos tão imperfeitos! Ainda não há muio escrevi algo ligado às sombras, mas longe, muito longe desta excelência.
    A sombra, metáfora do carrego do peso do corpo…

    Adequadíssima e precisa escolha vocabular numa projeção semântica que cria a complexidade da tua própria criação.

    Repetitivo dizer-te que é um prazer ler-te. Talvez já o não seja se te disser que é sempre um desafio intelectual!

    Bjo, amigo Filipe

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  12. As sombras... os fantasmas que abocanham o ser sem escrúpulos ou piedade.

    abraço
    cvb

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  13. Até que enfim que dás novidades tuas,gostei de ler esse teu poema!! Eu te desejo um fantástico ano de 2014,tudo de bom para ti. Muitos beijinhos,fica com deus e até breve!! http://musiquinhasdajoaninha.blogspot.pt

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  14. Nosso lado negro que nos invadem num crescente e se agiganta sobre nos, em negras noites...ou dias.

    Belo poeta!

    Beijos e um final de semana pleno de inspirações!

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  15. Que poderei dizer mais, para além do "mais", que me leva sempre a lugares tão perto e às vezes tão longe do Ser verdadeiro. Talvez exista um dos lugares mais verdadeiros que se conhecem, desde o nascer do Sol, talvez seja esse o lugar onde nos encontramos de mãos dadas, apesar dos círculos fechados, escuros e pesados. Mas há sempre um caminho em direção à luz. Nos teus poemas, há muito para descobrir e viagens intermináveis num mundo infinito de cor, movimento e saber. Beijinhos

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  16. "Apossam-se na escuridão da escuridão da luz errante..." a força dessa imagem que tu construiu, Mestre, é avassaladora. A "luz errante" que consigo leva o que haveria de nos iluminar... Repito: tu é um dos maiores poetas vivos com que Portugal brinda ao Mundo.

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