Entardece o tempo oculto traço a traço
Enquanto a vida rasurada se reescreve
Na insensatez de um verso encoberto
Existimos na inevitabilidade de um poema
No contraponto oposto de um canto
No contratempo de um andamento suprimido
Na constante inconstância de um caminhar
Enquanto inerte o tempo acontece deixando-nos
para trás
Tudo é estreito quando das
escolhas sobram as sombras
Quando dos caminhos recolhidos sobeja uma subterrânea via
Que ao longe se estende Obstruída
Existimos na inevitabilidade de um poema abandonado
No interior de um verso volátil
Na frívola ambiguidade de uma esventrada utopia
Na evocação permanente de uma eternidade cansada
Somos do eco a imprevisível propagação
A disseminação indevida de afastadas palavras
A teorização de uma caligrafia fundada na regra do infortúnio
Multiplicando rumores na razão desordenada
Escutamo-nos na subtileza confessional de um verbo
Existimos no mudo clamor da súplica intemporal
Somos o verso escuso a promessa
vã
O imprevisto discurso de uma desistência
A recusa de um indeclinável destino
A flagrante fraqueza de uma renúncia
Existimos na inércia de um adiado tempo
Na constante inconstância de um caminhar
Na púrpura denúncia de um perpétuo
amor
"Existimos na inevitabilidade de um poema...". Mas tu, poeta, paira acima da mera existência. Tu a cria.
ResponderEliminarAbraço sentido meu Mestre querido.
Cai a noite, as linhas reescritas
ResponderEliminarLidas na luz de uma vela quase sem pavio
Num lugar fechado, como secreto…
Uma existência como a lua, só a luz…
Ao longe.
De passos contrapassos
(todos os dias nasce o sol e com ele o tempo)
Sempre um começar e um acabar.
Um lugar abandonado onde as tempestades
Fizeram nascer um jardim ainda que por habitar…
A recusa, a fundava recusa
Que as escarpas ferem, que o precipício existe
Na promessa de um eterno amor
(que na dor se antecipa)
Na vaga esperança, que existam flores por descobrir no final, do precipício.
Um poema onde a dor e a duvida se cruzam,
Onde o amor é o protagonista.
Profundo e intenso, como uma lágrima.
Beijinho
MAGISTRAL!
ResponderEliminarUm abraço
Somos assim mesmo, Filipe, mas sempre olhando para a próxima curva.
ResponderEliminarGrande poema!
Abraço
Este teu soberbo e tocante poema nos atravessa a alma...
ResponderEliminarA uma sutileza confessional do poema
que assume sem intenção, como porta-voz dos poetas na
entrega ao verso: que se faz voz, sonho e eco
de um mundo recluso ao olhar das palavras que se movimentam
"na constante inconstante de um caminhar"...
Adorei, Filipe!
Bj.
Que poema riquíssimo!
ResponderEliminarHá tempos não aparecia aqui, que erro meu.
Na inevitabilidade de um poema, a voz entardece.
ResponderEliminarRasurado, o tempo imprime-se no verso sob a forma de um rasgo, de uma fenda, de uma púrpura garra - rompendo as ranhuras vitais do sonho, que se recolhem, nas palavras, num inusitado lamento.
Assim são os contratempos de um tempo irreparável, os pontuados passos inconstantes de um destino.
Restam as secundárias vias, as sombras, os encobertos rumos, as margens dos trilhos e as ramagens, já sem folhas.
Todavia, mesmo desistentes, os passos progridem na imprevisibilidade deste poema. Também ele efémero sob um tempo ininterrupto. Volátil e adverso. Descrente.
Noto uma ligeira modificação da estrutura dos versos, mas desconheço se foi consciente. Gosto deles assim: densos e robustos.
Não podia deixar de realçar o teu último verso “Na púrpura denúncia de um perpétuo amor”. É incrivelmente melódico. Facílimo de memorizar.
"Somos do eco a imprevisível propagação"
ResponderEliminarO poeta mostra o caminho, mas quem o trilha é quem lê.
Excelente, Filipe.
Beijos.
O seu poema é uma estrada onde meus olhos passeiam ávidos sem querer perder nenhum detalhe! Muito bom!
ResponderEliminarSuper lindo e emocionante este teu poema,gostei bastante de ler. Muitos beijinhos e um lindo mês de dezembro para ti,votos de um excelente natal. Fica com deus e até breve!!
ResponderEliminarPara que me escutes e me sintas como uma constante inconstância, mas ainda assim na procura de mais um Eu disperso, mesmo que nos pontos que marcam um espaço em branco no verso. É aqui que sempre sou, enquanto me vou. Até que chegue a hora de voltar, serei talvez um gesto...ou uma mão aberta. Sempre muito prazer ler-te
ResponderEliminarE eu que tanto admiro esse "tempo oculto"
ResponderEliminar:-)
Uma escrita, por demais criativa, madura e repleta de beleza.
ResponderEliminarAbraço e feliz Natal!!
O sentido da vida, analisado no pormenor da exigência sentida...
ResponderEliminarUm abração, Filipe!
Caminhamos, sim, na inevitabilidade do calendário temporal, mas somos nós que fazemos o caminho, enquanto seres detentores da marcha e da consciência das escolhas a fazer.
ResponderEliminarNo entanto, talvez a nossa existência se “justifique” apenas num superior estado, um estado que, metaforicamente, é poema, poema que perdurará após a morte do corpo.
Um poema que me deixa a reler alguns versos, tentando decifrar a tua “indecifrável” densidade poético-filosófica.
A vastidão e colocação do teu campo lexical (relevando as antíteses) no(s) verso(s) é sempre notável, pois ilustra bem a dialética que lhe subjaz.
Humildemente comento…
Bjo, amigo Filipe :)
Meu querido Poeta
ResponderEliminarQue neste Natal a magia da criança que fomos esteja presente nos nossos corações...que não seja apenas uma comemoração de um dia, mas momentos de amor que se prolonguem por todo o ano...unindo almas e encurtando distâncias com o carinho de uma palavra...o calor de um abraço que se sente como um lenitivo para todas as dores.
FELIZ NATAL junto de todos os que amas
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Vim deixar os meus votos de uma ótima quadra natalícia...
ResponderEliminarBjo, amigo Filipe
Feliz Natal, Filipe!
ResponderEliminarAbraço
Tudo pelo melhor
ResponderEliminarexistimos quando nos sonham
ResponderEliminarnos lêem
e nos amam
existes assim, como música que é tão inevitável quanto imprescindível.
e
ainda bem que
existes
és
consegues
sonhas
imaginas
concretizas
________________________________ feliz 2014
Quantas rasuras mais ainda serão necessárias para que e saiba que são nelas que encontramos o esteio dessa (des)ventura que é viver? Não, não responda que ao poeta não cabe as respostas, mas todas as perguntas e provocações. A inevitabilidade da recriação do mundo; o poeta está condenado a interpretar a a rotina, transformando o cotidiano em magia, descobrindo o que ninguém mais veria, se não fosse a sua pena de escrever poesia!
ResponderEliminar(R)Existimos na intenção do poeta perpetuar a arte, "porque a vida só não basta"!
Beijo, Filipe!