Da sombra sou a profundidade
A raiz negra da escuridão alastrando invisibilidade
Do tempo sou o arco que se dobra
O difuso contorno de um vestígio longínquo
É insondável a distância de um abismo
O alongamento do tempo tangido num rasto invisível
progressivamente distante
Não são os séculos que nos formam
numa narrativa de
irremediável ausência
É a divergente equação de uma incerteza
caminhando
contra o esquecimento
«Não olhes para trás
Nunca olhes para trás
A memória é um divino inferno de horrores»
É intangível a superfície de um reflexo
que na sombra se oculta por
completo
iniciando incomum
movimento
distanciando
o tempo
É incalculável a extensão de um precipício
que se mede numa escala de
fissuras
na dimensão dizível de uma ruína
brecha a brecha
na pedra rasgada
É inegável a fragmentação do solo
A segmentação irrefutável das épocas
A fissura que rasga o corpo
.