I. DEMASIA
Na demasia todo o tempo é escasso
A sombra ergue-se na cinza das horas
Como facho difuso
Como profuso fogo
Sucessivos fluxos em sequenciadas espirais
Impressões de inextinguível imortalidade
Na demasia todo o tempo é insuficiente
A suficiência inquieta o perfilar das pedras
Impressões de inextinguível imortalidade
Na demasia todo o tempo é insuficiente
A suficiência inquieta o perfilar das pedras
Como imprevisível possibilidade
Como impossível probabilidade
II.INÉRCIA
Na inexpressiva espessura dos dias
O poema é um deserto de palavras
De rimas insonoras
E alegorias inconsequentes
De metáforas desprovidas
E irrelevantes utopias
De insignificantes significados
E compulsivos adiamentos
O tempo torna-se inalterável quando o tempo se desmorona
Restam as horas que sobram
Meras sobrevivências
Supervenientes persistências
É bruma que prende e oculta
Corrompendo o fundamento
Corroendo profundamente
A névoa é invisível invasiva infinda
Em sucessiva propagação sucede-se em sucedâneas sensações
Amotinada revolta
Anárquico debate
Caótico tumulto
Recorrente mágoa
Angústia persistente
Irresistente desistência
Contínuo devir em progressiva continuidade
Como improdutiva resignação
Como íntegro desinteresse
III. DESVARIO
Na imprecisa textura da noite o sonho é uma sombra diletante
Em miríficas imagens
Em evanescentes miragens
Na incerta certeza das trevas a incerteza é um conceito delirante
De adicionados aditivos
E inactivos passos
De destituída força
E forçosa fraqueza
De incómoda incomodidade
E constante aridez
IV. MELANCOLIA
Toda a sabedoria é provisoriamente transitória
Uma efémera fragilidade
Um etéreo sentido
Uma instável verdade
Uma filosófica conjugação de um verbo
Como esta melancolia em demasia
I n s i s t e n t e m e n t e Vazia
.